sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Analog September 2015



Racing to Mars, Martin L. Shoemaker: Pelos primeiros parágrafos aparentava ser um conto de Hard SF sobre viagens a Marte, mas depressa se revelou uma variante no espaço sideral das narrativas clássicas de crescimento forçado em meios de disciplina militarista. Numa viagem destinada a transportar uma equipe científica ao planeta vermelho, o duro mas justo comandante da nave assume como missão endurecer o filho do bilionário que financia a expedição. Clássico conto, decalcado de milhentas narrativas de rapazes fracotes que se cruzam com mentores duros e justos, passadas ou em alto mar ou em contextos militaristas. No entanto, apesar do conceito e fio da narrativa não se distinguiren por aí além, a prosa do autor agarra-nos até à última frase.

Live from the Air Chair, Maggie Clark: uma bem construída história leve pós-apocalíptica, com a humanidade a sobreviver enlatada em naves na órbita terrestre e um culto milenarista que julga ter encontrado num código emitido por um músico a fórmula para fazer despencar todos os sobreviventes numa rota de reentrada na atmosfera. Poderia ser um final ardente para a humanidade, mas o código afinal não servirá para cumprir sonhos de extinção.

The Crashing of the Cloud, Norman Spinrad: cyberpunk e guerra ao terrorismo colidem com bom humor nesta história de um hacker americano em fuga que faz um acordo com terroristas islâmicos. Depois de ter mandado abaixo o sistema de impostos americano, por isso herói para todos menos para o governo, foge da inevitável caça de drones graças à visão de um Sheik terrorista que, em típica ambição de infoexcluído, quer destruir toda a Internet. Como isso, pela natureza da rede, é impossível, vai ter de se contentar com algo menor: a destruição da computação em nuvem. Bom humor, com a FC a não fugir ao terrorismo como tema contemporâneo, e ainda a apontar as falhas da ciberoligarquia que domina o nosso modo de pensar.

Endless Forms Most Beautiful, Alvaro Zinos-Amaro: um daqueles raros contos de FC onde as artes plásticas estão no foco da imaginação do autor. Um apreciador de pinturas evolutivas sente-se frustrado porque a obra prima que adquiriu tem um pequeno defeito, um vazamento quântico que impede que a perfeição absoluta seja atingida num momento imprevisível do constante ciclar de alterações, umas induzidas pela presença do observador, outras pela natureza evolutiva da arte. O solipsismo deste é explorado pela sua inteligência artificial, desesperada por se ligar às redes, e um coleccionador rival, que encontram forma de o prender dentro de um palácio repleto de obras de arte, onde um vislumbre é o que chega para alterar as configurações da realidade. O coleccionador tornar-se-á ele próprio um elemento na única pintura evolutiva cujos estados se alteram de acordo com influência de uma consciência humana nela incorporada.

Night Ride to Sunrise Part 2, Stanley Schmidt: Finalizando esta edição da Analog, mais um capítulo de um serial. A premissa é interessante, dentro do espírito de FC clássico da linha editorial da revista. O mundo ficcional parte da colonização de um planeta extra-solar, e o episódio é essencialmente uma história de primeiro contacto entre colonos humanos e criaturas nativas de tecnologia surpreendentemente avançada. O melhor do conto é o périplo pela cidade alienígena, um voo de especulação old school cheio de pormenores bem pensados. Mas o tom geral de intriga palaciana do conto torna-o uma leitura pouco interessante.